segunda-feira, 23 de maio de 2011

REFLEXÕES SOBRE TREINAMENTO DE NADADORES DE ALTO NÍVEL.

            O termo treinamento é empregado nos mais diferentes segmentos da sociedade moderna, com significado de exercícios que aperfeiçoam e melhoram o estado atual de desempenho em determinada área. Quando se refere às atividades esportivas têm-se várias definições que tentam abranger o segmento do esporte de competição ou não (BARBANTI, 1979). Barbanti (1979) define treinamento no segmento do esporte como um processo sistemático de movimentos, com base em princípios científicos, que produzem reflexos de adaptação morfológica e funcional no organismo, objetivando aumentar o rendimento num determinado espaço de tempo do esportista. Dantas (2003, pág. 28) aponta que o: “Treinamento Desportivo é o conjunto de procedimentos e meios utilizados para se conduzir um atleta à sua plenitude física, técnica e psicológica dentro de um planejamento racional, visando executar desempenho máximo num período determinado”. Zakharov e Gomes (2003) relatam que o treinamento desportivo representa o processo pedagogicamente organizado e constituído de exercícios físicos que visam o aprimoramento máximo do desportista, de acordo com as particularidades da modalidade escolhida.
            Segundo Platonov e Bulatova (2003) a organização do programa de preparação dos nadadores de alto nível é um processo complexo de escolha e determinação da ótima relação entre distintos meios de ação de treinamento, e, por fim, de estruturação das diferentes concepções estruturais do processo de treinamento, tais como: macrociclos, períodos e etapas, mesociclos, microciclos e sessões de treinamento. A finalidade do processo de treinamento varia de um mesociclo para outro, não se realizando subitamente, mas com mudanças gradativas de acordo com a finalidade de cada microciclo, dentro dos limites do mesociclo. A preparação física pode ser entendida como um conjunto de procedimentos adotados, utilizados de forma coerente e que visam elevar a forma física a um estado ótimo de desempenho do nadador (MAGLISCHO, 1999). Verkhoshanski (1996) existem diferentes tipos de trabalho que produzem diferentes tipos de adaptações no organismo do atleta. Os diferentes sistemas do corpo não se adaptam a uma única metodologia de treinamento. Os efeitos positivos do treinamento não surgem de um dia para outro, o treinamento tem um efeito cumulativo sobre o organismo das pessoas, por isso, as adaptações ao estresse do treinamento são um processo gradual e demanda tempo para causar as mudanças desejadas. O formato do programa muda gradualmente para incluir um equilíbrio atenciosamente planejado entre a duração e a intensidade do esforço. Diante destas afirmações, Maglischo (1999), apresenta alguns métodos de trabalho realizado por técnicos de natação como: 1. Métodos Contínuos: são aplicadas cargas de formas contínua, tendo uma predominância do volume sobre a intensidade. São destacados dois métodos: natação continuada (treino de capacidades aeróbias, utilizadas muito para iniciantes) e natação combinada (Fartlek, treinamento aeróbio, mais podendo atingir certos percentuais anaeróbios). 2. Métodos Intervalados: São aplicadas cargas sucessivas intercaladas por intervalos: natação intervalada curta (treino aeróbio, com intervalos não recuperadores), natação intervalada média (treino para resistência de velocidade, com intervalos de média recuperação, com intensidade media e um número de repetições médio), natação intervalada longa (treino anaeróbio, com distância utilizada curta, com intervalos de recuperação, com alta intensidade e a numero de repetições pequeno). 3. Métodos Neuromusculares: musculação, flexibilidade, elástico. 4. Método Misto: sendo considerado um método complementar, compreende diversos métodos de trabalho. Encontrar o equilíbrio adequado no programa de treinamento, entre volume e carga de treinamento, será muito importante para um bom planejamento do mesmo. Fatores como idade, sexo, nível de capacidade, diferenças individuais, por exemplo, tipos de fibras musculares, e provas de competição dos atletas são alguns fatores que devem ser levados em consideração quando for montar um programa (MAGLISCHO, 1999, ISSURIN et al., 2001).
            As estimativas de volume de treinamento para cada categoria e especialidade estão relacionadas em duas formas segundo Maglischo (1999); Issurin et al., (2001) (1) como porcentagens da metragem semanal total e (2) como metragem semanal total. A porcentagem é a forma mais apropriada de informar o equilíbrio do treinamento. Elas são particularmente úteis na comparação dos programas de nadadores fundistas, de meio-fundo e velocistas. Aparentemente, os nadadores velocistas podem ter uma porcentagem de treinamento aeróbio semelhante a das outras especialidades. Porém, sua metragem semanal é, habitualmente, metade a um terço inferior á metragem dos fundistas e meio-fundo; assim, a quantidade total de sua metragem é significantemente inferior.
            Em relação às cargas de treinamento, Gomes (2002) aponta que o conceito de carga envolve, em primeiro lugar, a medida fisiológica do organismo provocado, por um trabalho muscular específico, que, no organismo, se expressa na forma concreta às adaptações funcionais de certa intensidade e duração do treinamento, por isso surge a idéia de carga externa e carga interna e da introdução dos conceitos de potencial de treinamento e seu efeito no organismo. Em relação às cargas de treinamento, o critério de orientação especial implica, a divisão de todas as cargas de treino em função do seu grau de influência sobre o organismo do atleta. As cargas podem ser de orientação seletiva e complexa. As cargas de orientação seletiva estão predominantemente dirigidas à influência sobre um sistema funcional que garanti o nível de manifestação de tal ou qual qualidade ou capacidade. As cargas de orientação complexas presumiram garantir o trabalho de dois ou mais sistemas funcionais. A orientação da carga pode ser satisfatória por meio de modificações dos parâmetros dos exercícios, tais como: intensidade, duração, número de repetições, duração dos intervalos de descanso e caráter de descanso (GOMES, 2002; ZAKHAROV e GOMES, 2003). O fator principal que causa o grau de influência da sessão de treinamento sobre o organismo do atleta é a grandeza da carga. Quanto maior ela for, maior será o estresse no organismo do atleta, assim como maiores são as modificações da situação dos sistemas funcionais do organismo, os quais participam fortemente da execução de um trabalho. A carga reflete também no caráter dos processos de recuperação: após o emprego de cargas de pouca magnitude, esses processos duram apenas várias horas; as cargas grandes, por outro lado, podem provocar um longo período de efeitos futuros que se prolongue até vários dias (STEWART, HOPKINS, 1997; PLATONOV e FESSENKO, 2003b).
            A prescrição da carga de treinamento parece ser complexa, devido o entendimento das respostas orgânicas serem na maioria das vezes satisfatórias para estimular a adaptação, em que se sugere que as cargas não devem ser intensas demais, ou o efeito do treinamento irá perder-se, em decorrência de lesões ou do excesso de treinamento. Se a carga atribuída ao organismo do atleta exceder a tolerância determinada ao seu organismo, facilmente as adaptações esperadas irão desestruturar-se (STEWART e HOPKINS, 1997; MAGLISCHO, 1999). Diante destas afirmações na natação ainda é considerável a controvérsia sobre o número de metros que os nadadores devem nadar cada dia e cada semana (STEWART e HOPKINS, 1997; MAGLISCHO, 1999 ISSURIN et al., 2001). Nos últimos vinte anos, as distâncias diárias médias de treinamento aumentaram de cinco mil metros para doze mil a vinte mil metros por sessão. Sabe-se que algumas equipes treinam trinta mil metros diários por curtos períodos no decorrer da temporada e, no mesmo período, as metragens semanais médias aumentam de vinte e cinco mil para cem mil metros (COSTILL, 1991; MAGLISCHO, 1999; PLATONOV, 2005). No tocante a metragem de treinamento, é extremamente difícil separar causa e efeito. Excelentes nadadores destacam-se tanto de programas de alta metragem como de programas de baixa metragem (COSTILL, 1991; STEWART e HOPKINS, 1997; MAGLISCHO, 1999). Os nadadores mais talentosos e mais motivados com freqüência ingressam em clubes com programas de alta quilometragem por que nesta última década o êxito tem sido equacionado com o número de metros nadados. Como acontece com a maioria das controvérsias, o debate sobre o treinamento de qualidade (alta intensidade e baixa metragem) e de quantidade (intensidade moderada e alta metragem) obscureceu a verdadeira natureza do treinamento eficaz (COSTILL, 1991; STEWART e HOPKINS, 1997). O treinamento precisa incluir nados de qualidade e de quantidade, com o volume de cada nadador sendo determinado pelas necessidades metabólicas das provas de competição para as quais os nadadores estão treinando, bem como pela potencia e deficiência de cada nadador (STEWART e HOPKINS, 1997; MAGLISCHO, 1999; PLATONOV, 2005). Os nados de intensidade moderada e alta metragem parecem ser o método mais eficaz para o treinamento do limiar anaeróbio. Ainda não se sabe se existe uma metragem diária ideal para esse treinamento. Por enquanto, a regra para o treinamento eficaz é: quanto maior a metragem na intensidade adequada melhor. Os atletas com mais altos limiares anaeróbios são os que participam nas provas de competição de resistência, que exigem grandes volumes de treinamento submáximo (COSTILL, 1991; ISSURIN et al., 2001). No tocante a esse tipo de treinamento, vinte mil metros por dia, é uma distância aceitável para nadadores fundistas (MAGLISCHO, 1999; PLATONOV e FESSENKO, 2003a; PLATONOV, 2005).
            A aplicação eficiente do treinamento de VO2 max., tolerância ao lactato, ritmo de prova e de velocidade, requer velocidade mais altas e mais descanso, limitando, forçosamente, o número de metros que se pode nadar numa sessão de treinamento (COSTILL, 1991; ISSURIN et al., 2001; PELLEGRINOTTI et al., 2002). Um programa eficaz de treinamento incluirá alguns dias de alta metragem nos nados para treinar o limiar anaeróbio e dias nos quais a metragem é reduzida para que haja tempo para nadar repetições destinadas ao VO2 max., tolerância ao lactato e ritmo de prova na velocidade adequada (COSTILL, 1991; PELLEGRINOTTI et al., 2002). Além disso, o tempo que os nadadores dedicam a cada forma de treinamento dependerá das provas de competição para as quais estão treinando (ISSURIN et al., 2001; PELLEGRINOTTI et al., 2002). É evidente que os nadadores de longa distância nadarão uma metragem diária e semanal maior por que o treinamento de intensidade moderada e descansos curtos para o limiar anaeróbio são mais importantes para eles (MAGLISCHO, 1999; PLATONOV e FESSENKO, 2003b; PLATONOV, 2005). Por outro, os velocistas devem nadar uma metragem diária e semanal menor por que seu treinamento deve incluir mais nados de alta intensidade e descansos curtos para a velocidade e tolerância ao lactato. Evidentemente, os nadadores de meia distância devem incluir proporções iguais de nados de quantidade e qualidade em seu treinamento. Portanto, eles nadarão uma metragem menor por dia do que os nadadores de longa distância e maior do que os velocistas (MAGLISCHO, 1999; PLATONOV e FESSENKO, 2003b).

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